Carmen da Silva, uma rio-grandina precursora do feminismo brasileiro.

Livros de ensaios

A arte de ser mulher

Capa de A arte de ser mulher
Capa de A arte de ser mulher

Coletânea de artigos publicados na revista Claudia, foi lançada em março de 1966 pela Editora Civilização Brasileira. Com esse livro Carmen da Silva conquistou o seu segundo best-seller. A obra gira em torno dos problemas psicológicos e psicossociais vividos pela mulher daquela época. Nela são examinadas questões relativas à liberdade, à segurança íntima, ao equilíbrio e à maturidade. Carmen se valia de suas experiências e senso prático, acrescentando aos argumentos seu conhecimento de história, de literatura e de psicologia. O que predomina no livro, entretanto, é a serena capacidade de compreensão com que a autora enfrentou os problemas e sugeriu soluções, dirigidas às suas numerosas leitoras, à mulher atual.

Nos artigos são focalizados igualmente os mais variados aspectos e matizes das relações afetivas: a escolha amorosa, o sexo, o ciúme, a infidelidade, a comunicação, a solidão, os vínculos entre pais e filhos. A arte de ser mulher discute ainda a integração da mulher na sociedade por meio do trabalho e da participação no mundo. De forma geral, a linha condutora é a conquista da liberdade transcendental do indivíduo, que assume sua participação no mundo e na história. O principal objetivo dos artigos era o de estimular a busca de uma vida plena, a conquista da harmonia com seu próprio Eu e com os outros, o desenvolvimento do rico e multifacetado potencial que cada ser carrega consigo. Em suma, trata-se de um livro que reúne artigos corajosos e encorajadores, surpreendentes, polêmicos e, sem duvida, indispensáveis para ajudar a mulher, em tempo de superação, a trilhar a senda da autorrealização.

Na apresentação são palavras da autora: “Há muito tempo vários leitores e amigos pediram que eu resumisse em livro a série de artigos que venho publicando na revista Claudia, sob o título geral de A arte de ser mulher. Prometi fazê-lo quando tivesse tempo para reler cuidadosamente os textos, eliminando referências a cartas e críticas recebidas, a polêmicas suscitadas através das colunas da revista. Queria dar à luz um livro correto, organizadinho, sem aspecto de material jornalístico juntado às pressas. E como sempre acontece com as coisas que dependem de tempo extra, os trabalhos iam ficando para as calendas gregas. Um belo dia entrou na redação um rapaz moreno, puro dinamismo, puro nervo. Com forte sotaque nordestino, identificou-se: Frei Lino Moura, da Ordem dos Dominicanos. Foi logo dizendo o que queria: o livro. Exigiu-o: ‘Revista a gente empresta, perde, recorta modelinhos e desmembra toda. Precisamos ter esses artigos em forma permanente’. Achei o ‘permanente’ muito lisonjeiro e esclareci minha intenção e os motivos da demora em realizá-la. Mas Frei Lino não aceitava uma recusa, uma protelação: ‘Ora, se você vai esperar tempo o livro não sai nunca. Faça um prefácio explicativo e lance os artigos tais como estão’. A ideia não era nova, mas nunca apresentada em tom tão imperativo. De modo que estas linhas valem pelo prefácio explicativo sugerido. E o livro é dedicado a Frei Lino. Mas não só a ele. Também a três brotos fabulosos: Maria Pia, Paula e Maria Paula. Se quando elas chegarem aos dezesseis anos (e no caso de Maria Paula, ainda faltam quinze!) o texto ainda for válido, considerá-lo-ei plenamente justificado. E se até lá tiverem sido superados os problemas que encaro nestas páginas, tornando-as supérfluas – então estarão justificadas coisas muito mais importantes que o livro”.