Localizados novos textos de Carmen da Silva
Grupo de pesquisas literárias dedicado a pesquisar a vida e a obra de Carmen da Silva localiza 4 contos e três resenhas da autora
Os textos, escritos em castelhano, foram publicados entre 1958 e 1961 nas revistas argentinas Ficción e 4 Patas. A vida e a obra de Carmen da Silva continuam a ser objeto de pesquisas, graças, principalmente, ao Projeto da FURG “Carmen da Silva: uma rio-grandina precursora do feminismo brasileiro’, dirigido e coordenado pela Dra. Nubia Hanciau. Trata-se de dados ainda desconhecidos ou não divulgados em nosso meio e produções da escritora, textos pertencentes a sua etapa argentina. Quatro contos e três resenhas de livros, publicados entre 1958 e 1961 nas revistas Ficción e 4 Patas. Inicialmente as pesquisas concentravam-se em investigar a relação entre a escritora e o escritor argentino Oscar Hermes Villordo (1928-1994), um dos primeiros a abordar abertamente a homossexualidade em seus escritos, razão pela qual a primeira biblioteca argentina LGBT+ leva o seu nome em homenagem a sua luta, compromisso e coragem. Oscar Hermes Villordo e Carmen da Silva se conheceram em Buenos Aires e estabeleceram sólida amizade ao longo dos treze anos em que a escritora morou na capital argentina. Foi durante a pesquisa em busca de mais detalhes dessa relação que a Dra. Nubia Hanciau e o Dr. Jesús García depararam-se com textos coincidentes de ambos na revista argentina Ficción, criada por Juan Goyanarte, para a qual Carmen e Oscar foram assíduos colaboradores. Os textos ampliam o acervo de outras produções literárias já localizados (vide abaixo). Pode-se também apreciar a participação do próprio Oscar Hermes Villordo, de Juan José Hernández, de Quino, entre vários outros citados em Histórias híbridas de uma senhora de respeito. É o caso de Omar del Carlo, Ana O’Neill, Elvira Orphée ou Bernardo Verbitsky, dados que permitem ampliar o conhecimento dessa etapa da sua produção, marcada pelo sucesso do romance Setiembre (1957), assim como possibilitam conhecer a presença na mídia de suas obras e das publicações em revistas. E ainda um pouco mais sobre o seu círculo de relações no mundo intelectual argentino. Segundo Jesús García, “o que podemos apreciar é que a atividade literária de Carmen da Silva na Argentina não se reduz a Setiembre e a alguns textos publicados esporadicamente: existe uma atividade e uma presença intelectual continuada da escritora nesse país. Carmen tinha um nome, uma produção e uma notoriedade importantes no mundo das letras na Argentina no final dos anos cinquenta e início dos sessenta. Para Nubia Hanciau, “apesar de passadas quatro décadas de seu desaparecimento, retomar a produção da escritora rio-grandina significa re/conhecer nossos modelares antepassados e com isso iluminar o presente de um mundo onde nos faltam exemplos. Ao retomar seu pensamento livre, avant la lettre, lutamos contra o memoricídio que, muitas vezes, nos acomete”. Os textos encontrados são: os contos “Candombe” (1958), “La fuga” (1959), “El informe de la hiena” (1960) e “La cita (1961); as resenhas dos livros Puerta del Sol, de Ricardo Bastid (1959), Hotel Edelweiss, de Marilia S. Paulo Penna e Costa (1960) e Un dios para Lesbia, de Raúl Horacio Burzaco (1961). Em relação aos contos, no que se refere às suas estruturas e temas, destaca-se que Carmen deu continuidade ao jogo de oposição entre dois âmbitos, característica estilística da obra Setiembre. Sobre as resenhas, são três os exemplos de seu contato com a literatura: brasileira (Hotel Edelweiss), literatura argentina (Un dios para Lesbia) e literatura do exílio espanhol na argentina (Puerta del Sol). A localização desse conjunto de elementos descobertos permite prever que mais textos virão à tona no processo de recuperação da obra e da memória de Carmen da Silva.