Carmen da Silva, uma rio-grandina precursora do feminismo brasileiro.

Largo Carmen da Silva é ocupado por mulheres na luta por justiça e direitos
10 de dezembro de 2023
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Largo Carmen da Silva é ocupado por mulheres na luta por justiça e direitos

O Largo Carmen da Silva foi o lugar escolhido pelo Movimento de Mulheres do Rio Grande para marcar o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as mulheres no município. A data foi lembrada no dia 25 de novembro, a mesma que nos anos 1960 entrou para as páginas da história devido à morte das irmãs Maria Teresa, Minerva e Pátria Mirabal, ícones da resistência democrática na República Dominicana, torturadas e brutalmente assassinadas pelo governo ditatorial de Rafael Leónidas Trujillo.

Nesse dia, dezenas de sapatos vazios foram dispostos nas imediações do coreto próximo à placa que homenageia Carmen com o nome do Largo. A ação foi uma referência às 74 vítimas de feminicídio no Rio Grande do Sul, de janeiro a outubro de 2023. Os dados são do Observatório Estadual da Segurança Pública, órgão vinculado à Secretaria de Segurança Pública/RS. No mesmo período, segundo o referido banco de dados, ocorreram 202 tentativas de feminicídio no estado.

No mês de outubro, outro ato organizado pelo Movimento de Mulheres do Rio Grande foi realizado no Largo Carmen da Silva, que tem se consolidado como um espaço de defesa dos direitos das mulheres na cidade. Desta vez, a pauta foi a luta pela descriminalização do aborto no Brasil, que está em votação no STF.

Em entrevista concedida ao site da Universidade Federal do Rio Grande, a Professora Dra. Nubia Hanciau, responsável pelo projeto Carmen da Silva: uma rio-grandina precursora do feminismo brasileiro, refletiu sobre a agenda permanente dos direitos das mulheres na sociedade brasileira:

 “Se avançarmos nesse quase meio século no campo das relações afetivas e familiares, ainda hoje pautadas pela submissão das mulheres fundada nas mais sutis relações de poder, notadamente no que concerne à eliminação da violência dentro e fora do lar, também não fomos muito longe quanto aos direitos sobre o próprio corpo, à questão da reprodução em relação ao direito de decidir, à maternidade, o que pressupõe a descriminalização do aborto”, salienta.

A professora complementa a sua análise reafirmando a relevância das bandeiras e do legado de Carmen da Silva, que segue vivo nas lutas e nos anseios das mulheres que ocupam o Largo que carrega o nome da autora. “O posicionamento de Carmen da Silva e, nessa esteira, o de mulheres engajadas, implica o ultrapassar e o alargamento do feminismo em direção a um sentimento mais social. A voz de Carmen reverbera ainda por ela mesma, mas fala também pelas mulheres de hoje, na verdade são multivozes que incorporam o eu de narrativas, antigas e atuais”, conclui.