Carmen da Silva, uma rio-grandina precursora do feminismo brasileiro.

Carmen da Silva é destaque na Noite do Centro Histórico
20 de maio de 2023
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Carmen da Silva é destaque na Noite do Centro Histórico

Dois dias de cultura e muito lazer movimentaram a cidade do Rio Grande nos dias 18 e 19 de maio. A Noite do Centro Histórico alcançou a sua terceira edição com boa presença de público e algumas novidades, dentre elas, uma homenagem a Carmen da Silva.

Nas duas noites a Biblioteca Rio-Grandense foi a casa de Carmen, onde foi montada uma instalação artística sobre a escritora e jornalista nascida em Rio Grande. O trabalho teve a curadoria de Carlo Diego Silveira Alves, Cássio da Silva Pinheiro e Luciana Coutinho Gepiak. Tem o apoio da Professora Doutora Nubia Hanciau e está no âmbito do projeto Carmen da Silva, uma rio-grandina precursora do feminismo brasileiro.

No Salão de Leitura deste patrimônio histórico e cultural da cidade, fundado em 1846, rio-grandinos, rio-grandinas e turistas tiveram a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a vida e a obra da autora. Móveis antigos criaram a atmosfera dos anos 1960, 1970 e 1980, remontando a trajetória de uma mulher à frente do seu tempo. Fotos históricas, exposição de itens pessoais e de obras da rio-grandina complementaram o espaço visitado por pessoas de diferentes faixas etárias e segmentos sociais.

Todos encantados com a ousadia desta papareia que encarou de frente o patriarcado, seus dogmas e preconceitos. Carmen dedicou sua vida à causa feminista, seja nas mobilizações de rua, como nas históricas passeatas do Dia Internacional da Mulher, em 1983 e 1984, ou na redação da revista Claudia, oportunidade que manteve diálogo com milhares de mulheres brasileiras, desmitificando tabus e contribuindo para a conquista de direitos.

“Acho que o saldo foi muito positivo nestes dois dias de maio, com atrações de toda ordem, orquestras, música, projeções imersivas sobre a nossa história, teatro, bem como uma rica homenagem a uma das personagens mais importantes da literatura da cidade”, pontuou a Professora Doutora Nubia Hanciau, sobre a Noite do Centro Histórico e sobre a exposição sobre Carmen da Silva.

Ainstalação contou com uma intervenção cênica realizada por Solange Rebelo Porto, que fez caras e bocas, pose para fotos e interagiu com os presentes.  A direção foi de Luis Henrique Abreu Drevnovicz, também secretário de Cultura, Esporte e Lazer do município.

“Rainha do Lar”: uma rainha triste

A instalação artística montada por Luciana Coutinho Gepiak, Cássio da Silva Pinheiro e Carlo Diego Silveira Alves destacou uma passagem histórica marcante na vida da feminista rio-grandina: sua participação na passeata alusiva ao Dia Internacional da Mulher, realizada em 8 de março de 1983.

Com coroa, faixa, espanador e utensílios de limpeza, Carmen incorporou a personagem “rainha do lar”, uma crítica à sociedade patriarcal que não enxergava outro caminho para as mulheres além dos cuidados com a casa e com os filhos.

“Carmen liderou um cortejo de mais de duas mil mulheres na av. Rio Branco, no Rio de Janeiro. Ironizou, de forma jocosa (e essa era uma das suas características) o ‘reinado’ da mulher naquela época. Naquele período, lamentavelmente, a casa era o único espaço destinado pela sociedade patriarcal para a mulher ‘reinar’”, salientou Hanciau sobre o episódio histórico e sobre o uso dos adornos.

A Professora reforça que a exposição contribui não apenas para a rememoração deste fato, mas para sensibilizar a comunidade rio-grandina para o apreço ao legado e à memória da autora rio-grandina.

Confira, abaixo, dois excertos sobre o tema extraídos da obra A arte de ser mulher, de Carmen da Silva:

“Nossa sociedade outorga à mulher, esposa e mãe, o título de rainha do lar. Árbitro e senhora de seu diminuto universo. Mas... não será ela também uma rainha triste?” (SILVA, p.41, 1966).

“Adoram seus filhos, amam seus maridos com amor ciumento, exigente e possessivo; afirmam que a maior glória da mulher é reinar num lar e se declaram felizes – fe-li-cís-si-mas, graças a Deus” (SILVA, p.41-42, 1966).

Ampliada a data de visitação

Devido ao sucesso de público e interesse demonstrado pela população rio-grandina sobre a obra de Carmen, a organização da Noite do Centro Histórico decidiu ampliar a data de visitação da instalação artística.  A exposição estará disponível para visita até o final do mês de maio na Biblioteca Rio-Grandense.